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terça-feira, 25 de junho de 2013

1894 – BATALHA DO PULADOR (RS)


1894 – BATALHA DO PULADOR (RS)

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Com a proclamação da República o cenário político brasileiro sofreu transformações que levaram os liberais e conservadores a defender novas formas de governo, discutindo se ele deveria ser monárquico ou republicano, presidencialista ou parlamentarista, centralizado ou federalista. Na verdade, a modificação no sistema governativo do país provocara alterações em seus segmentos sociais, pois se de um lado a abolição da escravatura reduzira a influência dos grandes fazendeiros sobre as decisões das autoridades, de outro aumentara a dos profissionais liberais, dos comerciantes e industriais, que constituíam as elites urbanas, alterando, em conseqüência, o próprio exercício do poder.
No Rio Grande do Sul não poderia ser diferente. No estado sulino o Partido Federalista era liderado por Gaspar Silveira Martins, cidadão que mesmo sem saber tinha sido pivô da crise que culminaria com a proclamação da República. Segundo relatos da época, o marechal Deodoro da Fonseca, amigo do Imperador, concordara em participar da simulação de uma quartelada apenas para depor o gabinete do Visconde de Ouro Preto e voltar para casa, mas como Benjamin Constant informara como certo – o que não era verdade – que Silveira Martins, desafeto de Deodoro, seria o escolhido para suceder Ouro Preto, isso terminou por precipitar a proclamação da República, pois o marechal não aceitava ver um inimigo, que o chamava pejorativamente de sargentão, como primeiro ministro. Com isso, Deodoro concordou em assinar o decreto que instituiu o governo provisório republicano.
Com a deposição de Dom Pedro II, Silveira Martins partiu para um exílio na Europa, mas retornou à terra natal em 1892, beneficiado por anistia concedida pelo governo federal, para logo se indispor com a conduta dos governantes republicanos. Num congresso em Bagé ele propôs uma reforma constitucional e a adoção do parlamentarismo, mas não foi ouvido porque do outro lado os seguidores de Júlio de Castilhos, chefe republicano e presidencialista que assumira a presidência do Rio Grande do Sul em 26 de janeiro de 1893, tinham idéias diametralmente opostas. Essa diferença de opiniões e tendências políticas era acirrada por vários outros motivos, entre os quais o autoritarismo do chefe do executivo estadual, que por contar com o apoio de Floriano Peixoto exercia seu poder com mão de ferro, o que acabou levando republicanos e federalistas a se engalfinharem em uma luta sangrenta que se tornou conhecida nacionalmente pelo nome de Revolução Federalista.
Iniciando as hostilidades, José da Silva Tavares, conhecido como Jota Tavares, barão de Itaqui, e o coronel Gumercindo Saraiva, concentraram seus soldados na divisa com o Uruguai, e dali passaram a exigir não só a deposição de Castilhos, mas tam- bém a realização de um plebiscito através do qual os brasileiros pudessem escolher entre a continuidade republicana ou a restauração monárquica. Considerando que a estabilidade do governo gaúcho e do próprio país estavam ameaçadas, o presidente Floriano Peixoto não demorou em enviar tropas para defender Júlio de Castilhos (ilustração abaixo).
Daí em diante ocorreram vários confrontos encarniçados entre as duas forças inimigas. A Batalha do Pulador, travada em 27 de junho de 1894, é considerada a mais importante de todas porque nessa data cerca de 4.500 homens se enfrentaram na maior batalha campal acontecida durante a revolução federalista. Eram 3.000 soldados legalistas, ou pica-paus, e aproximadamente 1.600 revolucionários federalistas, que ao longo de seis horas promoveram um indescritível derramar de sangue em terras gaúchas.
Comentando esse episódio, o escritorPaulo Monteiro, membro da Academia Passo-Fundense de Letras e da Academia Literária Gaúcha, diz que:
“Na Batalha do Pulador, os números de mortos e feridos são divergentes. Pelo confronto entre os mesmos, pode-se concluir que morreram cerca de 800 combatentes no local da batalha. Testemunho oral de um dos sobreviventes (João José da Silva) coincidindo com indícios factuais, relatava que próximo de 300 brigadianos foram espingardeados nos matos próximos, para onde fugiram. Ninguém fala em prisioneiros”.
“Ora, a leitura atenta dos documentos e os testemunhos de sobreviventes são bastante claros: o massacre de feridos e prisioneiros foi uma prática tradicional em Passo Fundo, tanto por maragatos quanto por pica-paus durante a revolução de 1893. Soma-se a isso o saque a propriedades, que arrasaram a economia local, e veremos que essa revolução é tabu em Passo Fundo, porque a violência ultrapassou a média registrada em outras partes do Estado”.
Discorrendo sobre esse episódio histórico, a Sindicato dos Comerciários de Passo Fundo e Região publica em seu site que:
“Esta guerra deixou fundas cicatrizes, ainda não de todo apagadas. Antes, muito abertas, procurava-se afastar até no nome a proximidade do campo medonho, chamando-o ‘Batalha do Pulador’. Ultimamente tem se falado em ‘Batalha de Passo Fundo’, dando-lhe dimensões épicas que não teve: não houve glória, somente mortandade, talvez sem igual na história do Rio Grande. Sua singularidade e o fato de ter ocorrido em nossa terra não deve ser motivo de orgulho, mas de profunda reflexão sobre quais e de quem são os interesses que levam milhares à morte. Lembrar os crimes de nossos antepassados é tarefa dura, mas necessária, sem a qual não conheceremos realmente nossos defeitos e, portanto, não poderemos avaliar nossas reais qualidades, e a batalha  – de Pulador ou Passo Fundo, como queiram – deve ser vista com realismo, lembrando que é preciso mais força para viver em paz do que coragem para morrer lutando”.
A ilustração que encima este texto mostra o marco histórico erigido no lugar onde os chimangos das forças legalistas republicanas foram atacados por combatentes maragatos vindos do Uruguai e da Argentina, chefiados por José da Silva Tavares.

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