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terça-feira, 25 de junho de 2013

Nas corredeiras do Pampa gaúcho


Nas corredeiras do Pampa gaúcho

A pescaria é no visual com a transparência das águas

03/06/2011 - 09:56
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Que tal embarcar num caiaque e sair em busca dos peixes nas corredeiras do Pampa gaúcho? No Terra da Gente deste sábado (04) o destino dos repórteres do programa é uma grande aventura de exploração dos rios e das belezas dos Campos Sulinos, no Rio Grande do Sul. A jornada passa pelas extensas paisagens das fazendas de Rosário do Sul, perto da fronteira entre Brasil e Uruguai. A região é lugar único no Brasil e de natureza cheia de riquezas. E, para conhecer a rotina dos moradores da área rural, a equipe do Terra da Gente visita as tradicionais fazendas. A recepção gaúcha aos repórteres vem de um costume herdado dos índios: tomar o mate amargo na roda de chimarrão. No campo, o trabalho é pesado, mas tem suas recompensas, diante do espetáculo natural das paisagens e bichos, ninguém sofre de estresse. A história do Brasil faz parte das planícies da região de Rosário do Sul, muitas batalhas foram travadas na disputa por território. Uma característica forte do povo gaúcho é a valorização dos próprios costumes e para preservar a dança, a música e todo tipo de memória, eles criaram os chamados Centros de Tradições Gaúchas (CTG), onde em um deles os repórteres do Terra da Gente gravaram várias apresentações. E você, se arriscaria a pescar de caiaque? Pois é, os rios nesta área estão cheios de corredeiras e o caiaque é o melhor jeito de ir em busca dos peixes. E a pescaria de traíra é no visual. Na ponta da linha, também surge o rei do rio. A valentia do dourado gaúcho espalha água pra todo lado num show de belos saltos, a alegria dos pescadores é total com o resultado de bons peixes.
Programa 662 - Expedição Sul
Cultura gaúcha
Que campo é esse que vai além do limite do horizonte? Vasto, sereno, onde se ouve o assobio do vento, onde o orvalho reluz como ouro, e o cavalo é o melhor amigo do homem?
As riquezas desse lugar não são aparentes, precisam ser descobertas. Estão nas nuances das cores, da diversidade de vida. Às vezes, ficam escondidas debaixo d'água, camufladas. Mas com persistência, o peixe vem à tona.
Local onde há bravura há gente guerreira. A história desse povo prova isso. Do passado cheio de conflitos emergem personagens marcantes. Bem-vindo ao Pampa Gaúcho.
No Brasil, esse bioma só existe no Rio Grande do Sul, e cobre mais da metade do estado. A parte que você vai conhecer fica em Rosário do Sul. Nesse município de 40 mil habitantes, o tempo não arruinou a história. Muitos casarões antigos permanecem de pé.
É só caminhar um pouco pela rua para ter certeza que esse povo preserva as raízes. Até no dia-a-dia, o gaúcho anda pilchado, de bota e bombacha, como manda a tradição. Nas fazendas, ela se perpetua na lida campeira. É ali que o gaúcho se sente em casa. E onde nada é mais sagrado do que os hábitos que ele cultua.
É um costume do gaúcho do pampa tomar chimarrão logo cedo antes de iniciar o trabalho. O dia não começa bem sem o mate amargo, um hábito herdado dos indígenas.
Com o tempo, essa tradição se tornou um gesto acolhedor. "Matear", como eles dizem por aqui, é uma forma de mostrar que o visitante é bem-vindo, e também de compartilhar uma boa conversa. 
Pra esquentar a água, eles usam a cambona. Uma chaleira bem rústica, feita com uma lata velha. A tradição manda passar a cuia com a mão direita.
Segundo Eduardo Ribeiro, fazendeiro, pegar a cuia com a mão esquerda é um sinal de desrespeito com a outra pessoa.
Lida no campo
No Sul o desfile é das ovelhas. Os peões ficam só de olho. A conferência do rebanho é pra saber se tem algum animal doente. Quando há suspeita, mãos à obra. O problema é no casco, e logo é resolvido.
O mais difícil não é pegar o animal e convencê-lo de que precisa de remédio só depois de alguns coices.
A lida campeira é feita num lugar privilegiado. A fazenda Corunilha está dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA). A APA do Ibirapuitã é a única unidade de conservação federal que protege esse bioma. Foi criada em 1992 e possui 3.170 km², distribuídos por quatro municípios.
A biodiversidade da região ainda é pouco conhecida, faltam levantamentos de fauna e flora. O único estudo realizado até hoje foi feito pelo Cemave, o Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres. Foram identificadas 151 espécies dentro da APA do Ibirapuitã. As emas são as mais encontradas.
Por ser uma área só de propriedades privadas. Conservar o bioma é uma tarefa que precisa ser compartilhada por todos os fazendeiros da região. A criação de gado é a atividade econômica predominante. Mas há planos para explorar o ecoturismo, de forma sustentável. Porém a APA ainda não possui um plano de manejo.
Segundo Eduardo Ribeiro, fazendeiro e conselheiro da APA, o turismo vai agregar e ser mais uma fonte de renda das propriedades.
Resquícios de história
A riqueza dessa região também está na história. A equipe encontrou no meio do campo uma construção que remete ao passado. Um pequeno cemitério que estava violado. Dentro de um dos jazigos, ossadas humanas totalmente expostas, e como ficaram desse jeito, é um mistério.
Pelo estado de conservação do jazigo, os corpos foram abandonados. Devido à ação do tempo, a construção já está em ruínas. A lápide revela que o túmulo é muito antigo, tem mais de 100 anos, porque uma das pessoas que foi enterrada no local nasceu em 1849 e morreu em 1906.
De todos os personagens do passado da Serra do Caverá, o mais notável é Honório Lemes. Combatente na revolução de 1923. Ele era um dos líderes das tropas rebeldes, conhecidas como maragatos, que entraram em conflito contra os chimangos, nome dado aos legalistas.
No centro da revolta, os desmandos e fraudes do governo estadual, que tinha como presidente Borges de Medeiros. Honório Lemes conhecia como poucos a região, por isso era chamado de leão do Caverá.
Ter domínio sobre um território significa vantagem na hora do combate. Os morros, denominados de cerros, eram pontos estratégicos durante as batalhas. As tropas comandadas por Lemes costumavam se posicionar nas partes mais altas e deixavam os inimigos vulneráveis quando atraídos para os vales.
Uma das batalhas mais conhecidas durante a revolução em Rosário do Sul foi travada na Estância da Serra. As marcas estão pra ninguém esquecer desse capítulo da revolta, perfurações de bala nas paredes de uma das casas da fazenda.
Mário Ortiz de Vasconcellos, hoje com 101 anos, tinha 13 quando começou a revolução. Ele era gurizote naquele tempo, e lembrou que apesar do revolucionário ter menos soldados e menor poder de fogo, saiu vencedor da batalha adotando táticas de guerrilha.
Não só conheceu Honório Lemes, como até hoje exalta o papel do líder num dos capítulos mais importantes da história gaúcha. Assim como a pesquisadora Mara Regina de Souza.
Segundo a pesquisadora hoje ele é reconhecido nacionalmente e até internacionalmente como um tropeiro da liberdade, um dos grandes homens da história universal que lutaram pela liberdade no Rio Grande do Sul.
Objetos que pertenceram ao revolucionário estão guardados no museu de Rosário do Sul.
Onde também são preservadas ossadas e armas de combatentes da Batalha do Passo do Rosário, ocorrida em 1827. Ela entrou pra história como a maior batalha campal em solo brasileiro.
De um lado, as tropas brasileiras, de outro, as argentinas. Em disputa, o território da província cisplatina, onde hoje é o Uruguai, na época, esse território tinha sido incorporado ao Brasil. Milhares de soldados se envolveram na sangrenta batalha.
Os dois exércitos bateram em retirada e abriram caminho para a diplomacia. Um ano depois, um tratado oficializou a independência do Uruguai. Desde então, a paz reina na fronteira entre os dois países.
Pescaria de caiaque
Até a equipe chegar ao destino, depois de deixar a fazenda Corunilha, passaram por outras propriedades rurais, cruzaram riachos, chamados de arroios. Pelo caminho, muitas porteiras. A descida até o rio é complicada, por causa dos desníveis e da mata fechada. E a pescaria é diferente da que a equipe está acostumada. Em vez de usar o barco, que vai servir só de apoio, a pesca será de caiaque.
Aparentemente é complicado, porque em alguns momentos é preciso remar, e em outros fazer os arremessos. César Palma, pescador esportivo com vasta experiência nessa modalidade de pesca, explica que o segredo é equilibrar a força do remo e do barco, e na hora que a traíra atacar, ter uma fisgada um pouco mais firme.
O rio escolhido para a pesca é o arroio mineiro, um dos afluentes do principal rio da região, o Ibirapuitã. De tão limpa que é a água, dá pra ver os peixes lá embaixo. Os arremessos começam. A intenção é explorar cada canto e cada curva do rio.
Onde tem praia, é possível desembarcar e os arremessos são em direção à outra margem, na direção das raízes e galhos de duas plantas, o sarandi e o salseiro, onde as traíras costumam se esconder.
Cesar explica que a água muito fria, abaixo dos 15 graus deixa a traíra muito lenta, porque o metabolismo fica lento e por isso elas não comem.
Mas desta vez a temperatura da água está em 25,7 °, bem propicio para a pescaria de traíra, o que só falta encontra o lugar onde elas estão se alimentando.
E não é que deu certo, a equipe encontrou outra prainha de pedra onde estavam as traíras. O primeiro arremesso quase deu cetro, porque por pouco eles conseguem fisgar o peixe e levar para o barco.
Mais pescaria
Num dia tão bonito, é preciso aproveitar cada minuto. Os arremessos começam e logo tem peixe na linha. A alegria do nosso repórter dura pouco, porque o peixe escapa. Mas a sorte começa a mudar. César fisga uma traíra. Ela não é grande, mas é brigadora e bem forte, porque levou bastante linha.
O nome científico da espécie é Hoplias lacerdae, que apresenta diferenças em relação à traíra comum. A cabeça é chata, o “queixo” é em formato de “U” e o abdome é em tom de cinza.
A traíra serviu para dar mais vontade de pescar peixes maiores. De acordo com César, a isca que atraiu o peixe foi uma "ChutterBait", colorida e parecida com um pequeno molusco.
“Quando a isca é recolhida ela causa uma vibração que serve para chamar o predador, a isca é um dos elementos fundamentais para o sucesso da pesca”, explicou. Por isso a equipe decide insistir com essa isca e vai em direção a outro ponto do rio. Depois de passarem por uma corredeira e chegaram em um lugar pitoresco.
Um recanto selvagem onde quase ninguém chega, o paraíso das traíras. E a natureza presenteia com uma em tons metálicos. Logo em seguida, mais uma traíra fisgada. Desta vez, um exemplar ainda mais bonito, a diversidade de tons da traíra é impressionante.
A água limpinha favorece que a traíra seja mais colorida e atinjam tamanho grande, de 6,5 quilos. O nosso repórter enfim consegue a traíra dele, a emoção é grande depois que duas escaparam.
Ao passar por um outro trecho do rio a equipe encontrou uma traíra escondida do lado de uma pedra. Ela fica camuflada, pois a coloração é muito parecida com o fundo do rio. A pesca continua e para fechar o dia vem outra traíra na ponta da linha. A equipe já pode ir embora satisfeita.
Traíras do rio Ibirapuitã
A pesca continua e a aventura também. Porque logo na saída a equipe tem que fazer ginástica para descer um barranco e conseguir colocar o barco na água.No começo, pescaram de corrico, com o motor de popa ligado, porque o rio tem alguns pontos rasos onde é preciso puxar o barco.
O repórter logo avistou duas traíras. A isca é irresistível. E para começar bem o dia vem a primeira traíra no rio Ibirapuitã.
No Ibirapuitã, a equipe tem a chance de pegar traíras maiores, pois o rio é maior e com mais profundidade.
 César contou que a maior traíra que já pegaram media 75 centímetros, da espécie Hoplias lacerdae, que chega a um metro de comprimento.
Sinal de que o dia vai ser bom. E quem pesca traíra no rio Ibirapuitã também tem a chance de fisgar um dourado. Eles seguem de motor elétrico, que tem uma aproximação mais silenciosa. Porque o rio é estreito e os dourados enxergam com muita facilidade.
O silêncio para evitar o ruído é muito importante, nessa hora não economizaram nos arremessos.
Pescaria a pé
Um trecho raso obrigou a equipe a seguir a pé pelo leito do rio. Uma experiência única, e um rio exclusivo pra os pescadores da vez. Em contato direto com a natureza, pra se aventurar pelo lugar, só com um bom guia. César conhece bem este trecho do rio e dá a dica dos melhores pontos de pesca.
E assim seguem caminhando e arremessando. Uma jornada cansativa que leva até um poço muito bonito.
Sorte foi em outro ponto do rio cheio de pedras. Um dublê de dourado que infelizmente escapou. De tão grande que era o bicho a linha estourou.
O jeito foi insistir em outra praia boa para os arremessos. O local é bom, porque vem dourado dos grandes na isca, de 4,5 kg. Um peixe tão grande, num rio estreito como esse.
Isso só é possível graças ao trabalho de conservação, a pesca predatória do dourado está proibida em todo o Rio Grande do Sul.
Cesar explicou que toda a vez que o pescador esportivo capturar um peixe, deverá devolvê-lo com vida porque essa espécie está ameaçada de extinção. São essas as leis na reserva ambiental.
A proibição está trazendo uma população muito maior de dourados em todos os rios do rio grande do sul.
Já dá para perceber nitidamente o aumento de cardumes, alevinos e da qualidade maior.
A missão foi cumprida, não só com o dourado, mas também com a traíra.
Conservá-los protegidos nesses rios é a certeza de que a aventura no Pampa gaúcho será sempre cheia de surpresas.
Nesse lugar a natureza, tradição, cultura e história se combinam de forma perfeita.
Tradicional dança gaúcha
Quando os centros de tradições gaúchas - os CTGs se reúnem tem sempre gente bem vestida, prendas e peões.
Os encontros regados a chimarrão sempre acabam em vanerão e arrasta-pé. As danças folclóricas são uma das expressões da cultura gaúcha.
Em Rosário do Sul, existem cinco CTGs. Cada mantém suas invernadas artísticas. Grupos que se dedicam a diferentes manifestações culturais. Eles se apresentam desde criança e não se dedicam só à dança.
Leonardo Nunes da costa é um cantor mirim que ajuda a manter a tradição.
No ritmo da milonga, uma canção do tipo tango, ele canta "abaixo de mau tempo", música sobre a chuvarada e a solidão dos peões de boiadeiro.
O melhor é saber que a resistência gaúcha nas tradições de dança e música significa também a manutenção da história brasileira.


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