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domingo, 4 de novembro de 2012

AS BENZEDEIRAS GAUCHAS E PARTEIRAS


Benzedeiras e Parteiras
Galeria 1 2 3


Benzedeiras

Desde tempos imemoriais as mulheres sempre estiverem associadas a práticas mágico-religiosas, ao conhecimento do corpo, aos ritos de fertilidade, à manipulação das ervas e chás, aos saberes da natureza e outras tantas práticas consideradas femininas. 

Nas metamorfoses do conhecimento, as mulheres e suas práticas têm sido estudadas e desvendadas, tornando-se importantes objetos de estudo da história. Muito tem sido desmistificado, muito tem sido comprovado, muito tem sido negado, muito ainda temos por descobrir. O que é certo é que as mulheres benzedeiras e seus dons transmitiram-nos, ao longo do tempo, um mosaico infindável de práticas de cura que mesclavam conhecimentos naturais, pragmatismo e fé.  

Presentes em nossas memórias familiares, em nosso universo mágico-infantil, na realidade e na ficção, as benzedeiras estiveram e ainda estão presentes em nossa sociedade de forma significativa. Registrar suas trajetórias de vida por meio de suas memórias e incentivar a valorização de uma expressiva cultura popular é uma forma de preservar seus conhecimentos específicos, grande parte deles alicerçados na oralidade de suas rezas, saberes estes ameaçados pelo esquecimento.  





Ana Marisa Aguirres da Silva  1943 – Restinga Seca
Benzedeira
Atuação – Porto Alegre 
Em meio à "cidade grande", apesar da modernidade, alguns resquícios do passado podem ser observados. Um desses é a atividade que Dona Ana Marisa ainda desenvolve em Porto Alegre.
Quando tinha 14 anos, aprendeu a benzer com a madrinha, que, segundo ela, “deixou de lembrança as rezas”. Todas as pessoas que a procuram precisam retornar 3 vezes para obter uma melhora completa.  Ela não benze aos domingos e depois que o sol se põe, visto que é um período de descanso. Tesoura, arruda, carvão e copo com água são seus instrumentos, que aliados às orações à Virgem Maria, acompanham sua prática.
Dor de barriga, quebranto, rendidura e sapinho nas crianças, são as benzeduras mais procuradas.

“Deus que me dá força para transmitir o bem”.


 
Enedina Rodrigues Alegrete
Benzedeira
Atuação – Garibaldi

Dona Enedina não recorda o ano que nasceu, apenas que há 60 anos está em Garibaldi, onde tem um grande número de amigos que conquistou através de “seu dom”. Aprendeu com uma amiga, que lhe transmitiu suas artes antes de morrer. Segundo ela, toda benzedeira precisa passar para outra pessoa seus conhecimentos. Até agora, não encontrou ninguém interessado em receber tais conhecimentos, pois todos julgam, segundo ela, “ser muito compromisso”.
Às vezes recebe tantas pessoas que parece que está acontecendo uma festa em sua casa. A exemplo de outras benzedeiras, aos domingos descansa. Benze também à distância, pelo nome da pessoa e através de uma peça de roupa. Mau olhado e inveja, esses são os problemas para os quais é mais solicitada.


“Eu tento ajudar todo mundo... benzo pessoas, animais, plantações... eu gosto de ajudar”.


 

Maria Petronilha dos Santos Silva (D. Nina) 1929 – Santana do Livramento
Benzedeira
Atuação – Capivari do Sul e região

Nina: esse foi o apelido que escolheu e através do qual é conhecida em toda a região onde vive a mais de 30 anos.  Queria benzer “desde criança”, mas a mãe lhe disse que se começasse a benzer cedo não se casaria. Como queria casar, esperou. Não aprendeu com ninguém, diz que a  “reza vem”.
Benzedeira experiente, já viajou muito para benzer plantações e animais no interior do Estado. Também benze à distância, suas rezas se destinam a pessoas que moram em Porto Alegre, Mato Grosso, Bahia e Rio de Janeiro. Como a maioria, senão a totalidade das benzedeiras, não cobra pela sua ajuda, aceitando somente o que lhe oferecem espontaneamente.


“A benzedura é um pedido para Deus... sem Deus eu não sou ninguém”.
 
 Miguelina Ferreira de Lemos 1902 – Mostardas
Benzedeira e parteira “curiosa”
Atuação – Mostardas e região 
Descendente de escravos, Dona Miguelina, com mais de 100 anos, é a quilombola mais idosa do Estado. Sempre morou em Mostardas, onde atuou como parteira e benzedeira. Aprendeu a fazer partos com a mãe e a benzer ao longo de sua vida. Ficava dias fora de casa, atendendo a quem precisasse, “fosse negro ou branco”. Chás e rezas faziam parte de seu repertório contra todos os males.

“O que era para um, era para todos. Não me interessava a cor”. 
 Zeli da Rosa Neto 1930 – Capivari do Sul
Benzedeira
Atuação – Capivari do Sul e região
 
Foi um sonho com Nossa Senhora que fez Dona Zeli começar a benzer. Nesse sonho, a santa a instruiu. Pediu que comprasse livros de rezas e passasse a benzer quem a procurasse. Conhecida na região, recebe muitas pessoas, não havendo dia nem hora para benzer.
Pessoas de longe ligam e deixam o nome para ela benzer, outros trazem roupas de seus filhos; há ainda aqueles que a levam para o Interior para benzer plantações e muitos ginetes a procuram antes de competições.

“Para tudo existe uma benzedura”.

Parteiras


Vocação para cuidar. Assim as parteiras explicam o seu fazer. Vocação para cuidar de outras mulheres em um momento tão importante e delicado do universo feminino: o “ganhar” o filho. Mulheres obstinadas, não deixavam nunca de atender as parturientes, mesmo que para isso tivessem que deixar seus próprios filhos, atravessar enchentes, subir morros no lombo de cavalos, ficar dias na estrada, aprender a conduzir charretes e carros...

Algumas dessas parteiras estudaram, tiveram um preparo oficial em Escolas de Partos. Outras aprenderam na prática ao acompanhar a avó, a mãe... quando essas saiam para trabalhar. Mesmo com diferenças na constituição do saber, trabalhavam, ora auxiliando, ora substituindo os médicos - dadas as distâncias e a carência destes profissionais. As parteiras eram respeitadas pelo conhecimento que possuíam, cuidavam não só da parturiente como também de toda a sua família. Sua determinação muitas vezes levou à criação de maternidades.

Essas mulheres guardam na memória as imagens de cada mãe ao ter pela primeira vez o filho nos braços. Guardam o choro dos bebês que ajudaram a vir ao mundo, choro que não é de dor e sim de vida. Vida da qual foram um pouco responsáveis. Atualmente, suas atuações são raras nos grandes centros. Contudo, em um país com proporções tão extensas, essas mulheres ainda têm um papel importante.






Anita Engelmann 1928 – Rolante
Parteira “curiosa”
Atuação – Igrejinha e região 
Aos 22 anos, fez o primeiro parto. Sem nunca ter visto uma criança nascer, teve que ajudar a cunhada a dar a luz: “era muito longe para buscar o médico". A partir de então iniciou sua vida profissional. Com o apoio do esposo e dos poucos médicos da região, que viam nela uma aliada, uma vez que não poderiam estar sempre presentes devido às distâncias, começou a estudar sozinha, ganhando e comprando livros e estando sempre atenta às explicações que ouvia de médicos conhecidos.

Devido ao grande número de mulheres que a procuravam, resolveu com recursos próprios e a ajuda da comunidade construir uma maternidade. Em 1982, quando contabilizava mais de 2 mil partos, uma enchente que atingiu a cidade fez com que perdesse seus registros. Nunca concordou com simpatias e outras “crendices”; porém, sua fé em Deus sempre foi inabalável.

“Eu me dedicava. Eu não me importava com a minha vida... muitas vezes eu deixava meus filhos sofrer...”
 Clara Raspolt 1911 – Selsenkirchen, Alemanha
Parteira formada
Enfermeira Obstétrica – Faculdade de Medicina do Paraná, 1934
Atuação – Ijuí e região

Nascida na Alemanha, chegou ao Brasil ainda criança, com 3 anos de idade. Passou por vários municípios até instalar-se em Ijuí. Antes de ingressar no curso superior já realizava partos, tendo aprendido com Ida Hockel, uma das primeiras parteiras do Rio Grande do Sul, reconhecida pelo seu trabalho e dedicação.

Criou em sua casa uma pequena maternidade, ficando rapidamente conhecida na região. Todos sabiam chegar até o local, que possuía uma placa, onde podia se ler “Clara Raspolt – Parteira Diplomada”.
Sempre deixou claro às mulheres que se não pudesse ajudá-las às levaria ao hospital, para um tratamento médico, o que muitas vezes causava comoção entre a parturiente e sua família, uma vez que, naquele período, o hospital era visto como um lugar para onde só se iria para morrer.

Como outras profissionais, não tinha hora para trabalhar, saindo de casa muitas vezes de madrugada e ficando dias longe da família. Chegou a atender mais de três nascimentos por dia, calculando que em toda a vida profissional realizou mais de 2800 partos.

“Em alguns casos, a parteira não podia ajudar. Era preciso levar ao hospital...”
 Dolores Gonçalves 1924 – Itaqui
Parteira “curiosa”
Atuação – Uruguaiana e região

Iniciou a vida profissional aos 17 anos, quando acompanhava a avó pelo interior de Itaqui. Em Uruguaiana, atendeu muitas pessoas, carregando sempre consigo remédios homeopáticos, que ela chamava de “remédios campeiros”. Também usava como recurso chás e o diálogo com as parturientes, acalmando-as antes de iniciar seu trabalho. Só na família realizou mais de 20 partos.
Não acreditava em simpatias, apenas no seu trabalho, nos remédios que carregava e em Deus.

“Tenho muitos “netos de parto”, crianças que passaram pela minha mão”.
 
 Iara Tavares de Ávila Veiga  1929 – Alegrete
Parteira formada
Enfermeira Obstétrica – Faculdade de Medicina de Porto Alegre, 1952
Atuação – Porto Alegre e região metropolitana 
Depois de concluído o curso fixou residência em Viamão, onde foi por anos referência na cidade. De tão conhecida, tornou-se vereadora, conquistando em sem mandato verbas para a criação de uma enfermaria destinada às parturientes no hospital do município.
Sempre levou em consideração as orientações de seus professores médicos, que alertavam para a necessidade de um acompanhamento à futura mãe, desaconselhando um parto “de última hora”.

Já instalada em Porto Alegre, chegou a abrigar em sua casa mulheres de outras cidades e até de outros países. Uruguaias e Argentinas vinham até ela em busca de atendimento. Aposentou-se com mais de 6 mil partos. Poucos, segundo essa profissional que não tinha férias, que não viu seus próprios filhos crescerem, mas que amou muito seu trabalho.

“Tive muito amor pela minha profissão. Fiz por amor. Se você vai fazer qualquer coisa com amor, faz bem”.
 
 Maria Guilhermina Mayer 1922 – São Martinho da Serra
Parteira “curiosa”
Atuação – Santa Maria e região
 

Fez seu primeiro parto aos 22 anos e a partir de então não parou mais. Atuando na maternidade do Hospital de Caridade de Santa Maria chegou à chefia do setor.

Aprendeu a profissão na prática, recebendo auxílio de alguns médicos, que naquele período eram poucos. Aposentou-se como parteira no Hospital da Brigada Militar, também em Santa Maria. Perdeu a conta do número de partos que realizou, sabendo apenas que foram muitos.
"A aula pra mim foi a vida, o mundo, as coisa que se apresentavam... eu tinha que fazer..."



Miguelina Ferreira de Lemos 1902 – Mostardas
Benzedeira e parteira “curiosa”
Atuação – Mostardas e região 
Descendente de escravos, Dona Miguelina, com mais de 100 anos, é a quilombola mais idosa do Estado. Sempre morou em Mostardas, onde atuou como parteira e benzedeira. Aprendeu a fazer partos com a mãe e a benzer ao longo de sua vida. Ficava dias fora de casa, atendendo a quem precisasse, “fosse negro ou branco”. Chás e rezas faziam parte de seu repertório contra todos os males.

“O que era para um, era para todos. Não me interessava a cor”. 

ESTA E UMA RARIDADE E UMA BENZEDEIRA E A DONA ALCINA A PATROA DO CTG ZECA FREITAS DE MINAS DO LEAO, E UMA PESSOA SUPER AMAVEL E QUE ADORA MINHAS TROVAS ELA ME FALOU MAIS SOBRE BENZEDURA E ME EXPLICOU O SEGUINTE;
A TESOURA SERVE PARA CORTAR ...Ver mais

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Boa tarde.
    Prezado Sr. gostaria de saber se teria o endereço da benzadeira ANA MARISA AGUIRRES DA SILVA.

    Atenciosamente

    Denise

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  3. Por favor preciso muito encontrar uma rezadeira no Rio de Janeiro, estou desesperada. Sei que tem uma que fica em duas igrejas e se chama Dona Eva, ela é uma senhorinha e é cega, mas ela não vai na igreja há quase um ano e dizem que ela é muito boa. Por favor, quem souber dela e qual igreja ela também está, ou de uma outra rezadeira que seja muito boa, por favor entrem em contato comigo: bethinhasilva14@yahoo.com.br. Agradeço muito.

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  4. Por favor, gostaria do endereço da Ana Marisa Aguirres da Silva. Meu email é liegesimoes8@hotmail.com. obrigada desde já.

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  5. Olá, gostaria do endereço da Ana Maria Aguirres da Silva. Meu email
    marleibarreto@gmail.com. Agradeço desde já.

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  6. Olá, gostaria do endereço da Ana Maria Aguirres da Silva. Meu email
    marleibarreto@gmail.com. Agradeço desde já.

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