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quarta-feira, 13 de março de 2013

PONTE DO GUAIBA


Um dos mais bonitos cartões­postais de
Porto Alegre está comemorando 50 anos. A

Travessia Régis Bittencourt, inaugurada em
1958, é popularmente conhecida como a
Ponte do Guaíba e carrega em sua estrutura
uma história de muita dedicação e esforço
e uma curiosidade peculiar, toda a obra foi
feita no decorrer de três governos.
Antes de a ponte ser construída, a traves­
sia era feita através de barcas que partiam
da Vila Assunção, zona Sul da capital, em
direção a Guaíba. A travessia por si só não
era tão longa, levava­se apenas 20 minutos,
a demora ocorria nas operações de carga e
descarga, com cerca de 40 minutos. Devido
a este problema, além da defasagem, em
1953, o sistema de barcas começou a ser
discutido e uma nova solução para a traves­
sia no Guaíba passou a ser explorada.
Grande conhecedor da história da cons­
trução da ponte, o engenheiro civil Lélio
Soares Araújo, que foi um dos fiscais do
Departamento Nacional de Estradas e Roda­
gens (DNER) durante a obra, explica que
foram apresentados 12 projetos para a tra­
Ponte do Guaíba comemora 50 anos
vessia, tanto do Brasil como de outros paí­
ses, como a Alemanha e a França. “Havia, en­
tre eles, um sobre a construção de um túnel
na rua Duque de Caxias debaixo do Guaíba
– que foi logo descartado – e outro que visava
o uso do delta do Guaíba, com uma ponte
por cima dele – o escolhido”, conta o enge­
nheiro.
“No edital de concorrência, demos pon­
tos também para a parte de arquitetura da
obra. O julgamento levou mais ou menos
seis meses, até o projeto alemão ser esco­
lhido”, comenta Araújo. Este projeto, se­
gundo o engenheiro, visava uma ponte que
atravessaria as ilhas do Guaíba, com uma
estrutura móvel que se elevaria para que
continuasse a transição de navios que pas­
savam pelo lago.
Depois de ser revisado na França, o pro­
jeto foi adaptado para o Brasil pelos técnicos
franceses, sofrendo algumas modificações.
De acordo com Araújo, engenheiros france­
ses fotografaram toda a região onde iria ser
construída a travessia e reproduziram uma
ponte, inclusive com a cheia do ano de 1941,
para averiguar se haveria algum problema.
“Recomendaram, então, que não fosse feito
um viaduto, e sim um aterro para manter
o nível do delta estabilizado”, conta.
Começam as obras
Finalmente, em 1955, começou a cons­
trução da tão esperada travessia, empreen­
dimento que durou três longos anos. O avan­
ço tecnológico da ponte foi o que a diferen­
ciou das demais na época, sendo um dos
maiores projetos arquitetônicos do país,
perdendo apenas para a Ponte Rio­Niteroi,
que, por ter sido construída anos depois,
pôde utilizar muito mais tecnologia para o
empreendimento.
A ponte faz parte de um conjunto de
quatro travessias, além da Ponte do Guaíba,
também é composta pelas pontes sobre o
Canal Furado Grande, o Saco da Alemoa e
sobre o Rio Jacuí. Sua estrutura metálica foi
toda feita pela Volta Redonda, atual Com­
panhia Siderúrgica Nacional (CSN), sendo
a parte eletrônica inteiramente importada
da Alemanha.
A travessia de barcas era feita
em uma hora e meia
Construção da Ponte Dia da inauguração da Travessia
DIVULGAçãO DIVULGAçãO DIVULGAçãO
A Ponte do Guaíba foi construída com o propósito de ligar as ilhas do lago
EDUARDO AIGNERCONSELHO em revista | nº 39
www.crea-rs.org.br
21
MEMóR Ai
“A imagem muda o cartão-postal: construída por ser obra de arte, e sempre fo   -
tografada do solo, eis que, agora, a cinqüentenária ponte fica mais bela ainda
porque emoldurada pela paisagem de seu entorno. Passados 50 anos, saímos do
ufanismo tecnicista de uma nação agrária que queria ser industrial e passamos
para uma nação que quer reencontrar a beleza de sua paisagem. A Ponte do Gua-
íba fez aumentar a ocupação humana nas ilhas, mas ainda podemos respirar o
verde do delta que se esparrama para o fundo da imagem onde fica emoldurado
pelos morros, compondo uma bela cena que parece ser de uma natureza ancestral
e que contrasta, no lado esquerdo, com o skyline da ameaçadora cidade. Seria
ela, agora, a ponte da sustentabilida  de.”                                             Rualdo Menegat
Com 1,1 km de extensão, a travessia foi
um grande desafio para o Brasil, justamente
pela tecnologia de seu vão móvel, que iça
58 metros de ponte por 18,3 metros de largu­
ra a uma altura de até 35 metros acima do
nível da água, feito para permitir a passa­
gem e petroleiros utilizados pelo Pólo Petro­
químico de Triunfo e pela Petrobras.
Quando questionado sobre os desafios
da construção, para a época, de uma ponte
móvel, o engenheiro Araújo é enfático: “A
ponte móvel é uma parte pequena da obra,
era apenas mais uma obra dentro do con­
junto”, resume.
No início das obras, os operários e enge­
nheiros da ponte do projeto tiveram alguns
contratempos. Na ponte sobre o Rio Jacuí,
houve um rompimento de arames dos cabos
que eram fixados em blocos de concreto.
Era vivida, então, a primeira experiência
com um problema real, que mesmo assim
não impediu que os engenheiros desistis­
sem: “Naquela época, eu era recém­formado,
topava qualquer negócio, nunca pensei em
desistir. Nós, engenheiros, vimos o problema
e começamos tudo de novo”, explica o enge­
nheiro Araújo.
Com a proximidade da entrega da obra,
faltando um ano aproximadamente, houve
um problema com a Volta Redonda sobre a la­
minação do aço. A solução foi enviar um en­
genheiro do DNER à Alemanha para averi­
guar junto aos técnicos locais o motivo de a
ponte não estar dando certo no Brasil, mas
funcionar perfeitamente lá. Na Alemanha,
foi constatado que o laminador deveria ser
aquecido. Resolvido o problema, operários e
engenheiros continuaram as obras até o final.
A inauguração
Em 1958, três anos após o início das obras,
a ponte foi finalmente inaugurada, como
Travessia Régis Bittencourt. O nome era uma
homenagem a um engenheiro, ex­diretor
geral do DNER. A construção possibilitou
pela primeira vez na história do Rio Grande
do Sul uma ligação a seco entre as margens,
ligando a capital e o Sul do Estado.
A construção da ponte ajudou o desen­
volvimento das cidades envolvidas, pois,
de acordo com o arquiteto Flávio Kiefer, es­
tudioso da travessia, as cidades à beira dos
rios e lagos ganharam vantagens com a faci­
lidade de comunicação com a capital. “É
preciso lembrar que a travessia era feita em
média em uma hora e meia e depois pas­

sou a ser feita em 30 minut

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