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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PARTEIRAS DE CAMPANHA


Parteiras


Vocação para cuidar. Assim as parteiras explicam o seu fazer. Vocação para cuidar de outras mulheres em um momento tão importante e delicado do universo feminino: o “ganhar” o filho. Mulheres obstinadas, não deixavam nunca de atender as parturientes, mesmo que para isso tivessem que deixar seus próprios filhos, atravessar enchentes, subir morros no lombo de cavalos, ficar dias na estrada, aprender a conduzir charretes e carros... 

Algumas dessas parteiras estudaram, tiveram um preparo oficial em Escolas de Partos. Outras aprenderam na prática ao acompanhar a avó, a mãe... quando essas saiam para trabalhar. Mesmo com diferenças na constituição do saber, trabalhavam, ora auxiliando, ora substituindo os médicos - dadas as distâncias e a carência destes profissionais. As parteiras eram respeitadas pelo conhecimento que possuíam, cuidavam não só da parturiente como também de toda a sua família. Sua determinação muitas vezes levou à criação de maternidades.

Essas mulheres guardam na memória as imagens de cada mãe ao ter pela primeira vez o filho nos braços. Guardam o choro dos bebês que ajudaram a vir ao mundo, choro que não é de dor e sim de vida. Vida da qual foram um pouco responsáveis. Atualmente, suas atuações são raras nos grandes centros. Contudo, em um país com proporções tão extensas, essas mulheres ainda têm um papel importante.






Anita Engelmann 1928 – Rolante
Parteira “curiosa”
Atuação – Igrejinha e região 
Aos 22 anos, fez o primeiro parto. Sem nunca ter visto uma criança nascer, teve que ajudar a cunhada a dar a luz: “era muito longe para buscar o médico". A partir de então iniciou sua vida profissional. Com o apoio do esposo e dos poucos médicos da região, que viam nela uma aliada, uma vez que não poderiam estar sempre presentes devido às distâncias, começou a estudar sozinha, ganhando e comprando livros e estando sempre atenta às explicações que ouvia de médicos conhecidos.

Devido ao grande número de mulheres que a procuravam, resolveu com recursos próprios e a ajuda da comunidade construir uma maternidade. Em 1982, quando contabilizava mais de 2 mil partos, uma enchente que atingiu a cidade fez com que perdesse seus registros. Nunca concordou com simpatias e outras “crendices”; porém, sua fé em Deus sempre foi inabalável.

“Eu me dedicava. Eu não me importava com a minha vida... muitas vezes eu deixava meus filhos sofrer...”

 Clara Raspolt 1911 – Selsenkirchen, Alemanha
Parteira formada
Enfermeira Obstétrica – Faculdade de Medicina do Paraná, 1934
Atuação – Ijuí e região

Nascida na Alemanha, chegou ao Brasil ainda criança, com 3 anos de idade. Passou por vários municípios até instalar-se em Ijuí. Antes de ingressar no curso superior já realizava partos, tendo aprendido com Ida Hockel, uma das primeiras parteiras do Rio Grande do Sul, reconhecida pelo seu trabalho e dedicação. 

Criou em sua casa uma pequena maternidade, ficando rapidamente conhecida na região. Todos sabiam chegar até o local, que possuía uma placa, onde podia se ler “Clara Raspolt – Parteira Diplomada”.
Sempre deixou claro às mulheres que se não pudesse ajudá-las às levaria ao hospital, para um tratamento médico, o que muitas vezes causava comoção entre a parturiente e sua família, uma vez que, naquele período, o hospital era visto como um lugar para onde só se iria para morrer.

Como outras profissionais, não tinha hora para trabalhar, saindo de casa muitas vezes de madrugada e ficando dias longe da família. Chegou a atender mais de três nascimentos por dia, calculando que em toda a vida profissional realizou mais de 2800 partos.

“Em alguns casos, a parteira não podia ajudar. Era preciso levar ao hospital...”

 Dolores Gonçalves 1924 – Itaqui
Parteira “curiosa”
Atuação – Uruguaiana e região

Iniciou a vida profissional aos 17 anos, quando acompanhava a avó pelo interior de Itaqui. Em Uruguaiana, atendeu muitas pessoas, carregando sempre consigo remédios homeopáticos, que ela chamava de “remédios campeiros”. Também usava como recurso chás e o diálogo com as parturientes, acalmando-as antes de iniciar seu trabalho. Só na família realizou mais de 20 partos.
Não acreditava em simpatias, apenas no seu trabalho, nos remédios que carregava e em Deus.

“Tenho muitos “netos de parto”, crianças que passaram pela minha mão”.
 
 Iara Tavares de Ávila Veiga  1929 – Alegrete
Parteira formada
Enfermeira Obstétrica – Faculdade de Medicina de Porto Alegre, 1952
Atuação – Porto Alegre e região metropolitana 

Depois de concluído o curso fixou residência em Viamão, onde foi por anos referência na cidade. De tão conhecida, tornou-se vereadora, conquistando em sem mandato verbas para a criação de uma enfermaria destinada às parturientes no hospital do município.
Sempre levou em consideração as orientações de seus professores médicos, que alertavam para a necessidade de um acompanhamento à futura mãe, desaconselhando um parto “de última hora”.

Já instalada em Porto Alegre, chegou a abrigar em sua casa mulheres de outras cidades e até de outros países. Uruguaias e Argentinas vinham até ela em busca de atendimento. Aposentou-se com mais de 6 mil partos. Poucos, segundo essa profissional que não tinha férias, que não viu seus próprios filhos crescerem, mas que amou muito seu trabalho.

“Tive muito amor pela minha profissão. Fiz por amor. Se você vai fazer qualquer coisa com amor, faz bem”.
 

 Maria Guilhermina Mayer 1922 – São Martinho da Serra
Parteira “curiosa”
Atuação – Santa Maria e região
 
Fez seu primeiro parto aos 22 anos e a partir de então não parou mais. Atuando na maternidade do Hospital de Caridade de Santa Maria chegou à chefia do setor.

Aprendeu a profissão na prática, recebendo auxílio de alguns médicos, que naquele período eram poucos. Aposentou-se como parteira no Hospital da Brigada Militar, também em Santa Maria. Perdeu a conta do número de partos que realizou, sabendo apenas que foram muitos.
 
"A aula pra mim foi a vida, o mundo, as coisa que se apresentavam... eu tinha que fazer..."



Miguelina Ferreira de Lemos 1902 – Mostardas
Benzedeira e parteira “curiosa”
Atuação – Mostardas e região 
Descendente de escravos, Dona Miguelina, com mais de 100 anos, é a quilombola mais idosa do Estado. Sempre morou em Mostardas, onde atuou como parteira e benzedeira. Aprendeu a fazer partos com a mãe e a benzer ao longo de sua vida. Ficava dias fora de casa, atendendo a quem precisasse, “fosse negro ou branco”. Chás e rezas faziam parte de seu repertório contra todos os males.

“O que era para um, era para todos. Não me interessava a cor”.







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