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terça-feira, 16 de outubro de 2012

ADAO LATORRE HEROI OU BANDIDO?

Terça-feira, 16 de Outubro de 2012 16:24
Adão Latorre: Herói ou bandido?
Com a passagem da Semana da Consciência Negra e suas celebrações, não foi vista,
ou não foi destacada o suficiente, nenhuma manifestação a respeito de Adão Latorre,
 
 
Adão Latorre (ao centro): com seus ajudantes de ordens
 

...o célebre bajeense que lutou nas revoluções de 1893 e de 1923.
Sua característica mais propalada: a crueldade. Nesta matéria especial
o Jornal MINUANO tenta resgatar alguns aspectos relativos à biografia
desse negro que até hoje divide opiniões e gera debates polêmicos.
A História é escrita pelos vencedores para os compêndios oficiais,
mas é contada, também, pelos vencidos.
Como breve elemento para esclarecer o contexto da época, Fagundes Cunha
explica: “Maragatos e pica-paus, os dois grupos que, apaixonados, alimentaram
a guerra civil de 1893/1894, encontravam-se apoiados em desrazões as mais diversas.
Os primeiros, também chamados federalistas, afirmavam-se vítimas da ditadura de
Júlio de Castilhos, o “bárbaro togado”, fiel seguidor de Auguste Comte que,
presidente do Rio Grande do Sul, insistia em que os adversários precisavam ser punidos,
sem piedade, em seus bens e em suas próprias pessoas. Partidários da república
parlamentarista e do fortalecimento do ente federativo, seus líderes principais eram
Gaspar Silveira Martins, inflamado tribuno dos tempos do Império e ideólogo do novo
sistema, mais José da Silva Tavares e Gumercindo Saraiva na condição de generais ou
cabos-de-guerra”.
Estabelecida a vitória dos legalistas, e de acordo com a cartilha positivista,
todos os expoentes maragatos foram, de certa forma, apagados ou diminuídos no contexto histórico.
Note-se o nome das ruas da cidade onde os líderes maragatos são em menor número.
Nesse mosaico é que a memória de Adão Latorre sobrevive. Sua biografia é escassa e pontuada de afirmações pouco elogiosas
referentes à sua suposta crueldade. Aos olhos contemporâneos a “Revolução da Degola” (1893) foi página das mais cruéis.
É evidente que o ato em si é cruento, mas é preciso levar em conta o contexto da época. Paupérrimas provisões de munição,
desgaste físico gigantesco face ao clima inclemente, embrutecimento moral e psicológico fruto da violência da guerra levavam
à prática da “colorada” entre as fileiras revolucionárias. Se do lado maragato era assim, que dizer dos Pica-paus que decapitaram
Gumercindo Saraiva, irmão de Aparício?
O episódio é atribuído ao comando de Firmino de Paula, pica-pau de destaque.
O que fica claro é que os massacres eram de ambos os lados. A famosa degola do Rio Negro, aqui perto de Bagé, faz a figura de
Latorre ser realçada pela frieza nas execuções. Relatos dão conta que seriam 300 prisioneiros legalistas degolados, cifra controvertida
pela falta de comprovação. Tanto que o historiador bajeense, Tarcísio Taborda, em aprofundada pesquisa, concluiu serem trinta execuções.
Nessa ocasião, Latorre teria 58 anos de idade e, segundo Caggiani, numa afirmação polêmica, “por ser pobre e negro, teria levado a culpa de tudo”.
Os pica-paus, por sua vez, em Palmeira das Missões, venceram o combate do Boi Preto, no Capão da Mortandade.
Os maragatos vencidos eram liderados por Ubaldino Machado e os Pica-paus por Firmino de Paula. Vencido o embate, Firmino de Paula
telegrafou a Júlio de Castilhos informando que havia vencido 370 maragatos, sem entrar em detalhes.
Na mesma História Ilustrada, é relatado que os prisioneiros maragatos foram atados com tentos e postos em marcha com a coluna vencedora.
No caminho eram degolados e os números indicam cerca de 250 degolados (artigo de Tupinambá Nascimento, desembargador aposentado do TJRS).
Como se pode notar, a herança positivista se encarrega de “laurear” os maragatos vencidos com a pecha de bárbaros cruéis.
E nesse panteão, desponta Adão Latorre, que morreu em combate, em Dom Pedrito, com pouco mais de 80 anos, na revolução de 1923.
A tapera de sua casa se decompõe e desaparece, aos poucos, silenciosa, à beira da estrada que conduz ao Passo do Tigre. Poucos vão visitar.
 
Reprodução/JM
Gumercindo Saraiva e Aparício Saraiva (ao centro): com seu estado maior em 1893
Adão Latorre (ao centro): com seus ajudantes de ordens
 

 

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